quinta-feira, 17 de junho de 2010

O texto prometido

Bom dia, queridos!
Encerro este blog com um texto que faz parte de um conjunto de novas criações. Imagino ser este o que mais se encaixa aqui. Respirem fundo em alguns parágrafos, pois o uso de vírgula em detrimento do ponto final é proposital. Faz parte da demonstração de um só pensamento, sem pausas.
Abraços!

"O Conto de Fadas é a Realidade


Era uma vez uma linda menininha. Veio ao mundo com a inocência da criança, mas também com a sabedoria do coração. Num lugar onde o que se aprecia é o cálculo, o título, o batimento de metas, a conta no banco, a popularidade, a roupa que usa, o carro do ano e, principalmente, a razão.

Quando as amigas já namoravam ela ainda brincava de casinha. Não tinha pressa para crescer. Entretanto, mesmo em seu mundinho, em suas brincadeiras, ela via e queria tudo o que as amiguinhas já faziam acontecer.

Quando finalmente seu coração encontrou um amiguinho que ela pensou se tratar daquele que “viria a ser”, ficou um pouco em dúvida sobre o agir. O tempo foi passando e nada acontecia. Com medo de ter feito algo errado e tudo atrapalhado, em nome de um “nós” que só na mente dela existia, resolveu doar-se por inteiro, até que ele estivesse pronto para se decidir.

Muito tempo depois ele finalmente seguiu seu caminho, mas não foi ela a escolhida. Usando sua sabedoria na hora errada e com a pessoa que não merecia, ela viu aquilo como criancice masculina e, esperançosa, abriu ainda mais seu coração.

Anos se passaram, e depois de até fiel ter sido a alguém que muitas vezes por ela nem tinha consideração, magoada depois de tanto ter sofrido, logo encontrou um rapaz mais maduro e viveu outra paixão.

Em pouco tempo muito amigos se tornaram e esta relação estava cada vez mais parecida com a que trazia consigo desde pequena, mas logo veio o “não”.

Ao reencontrar o amigo que com ela mexia, que dela sinceramente gostava, mas com quem ela não se envolvia antes por novamente fazer o que julgava ser “respeitar seu coração”, dizer-lhe- ia o que sentia. Ele, porém, contou seu assunto por antecipação. Com certa esperança no olhar, sabendo estar derrotado, disse que finalmente havia encontrado alguém com quem dividir a vida e até hoje, casados, celebram juntos esta união.

Ela, desanimada, seguiu pelo caminho da auto-iluminção. Enganou-se mais algumas vezes, até “paixão à primeira vista” viveu, e graças a essa paixonite terminou um relacionamento, simplesmente por sentir como se estivesse numa prisão.

Ao ser novamente questionada pelos que a rodeavam o porquê de outro rompimento, ela explicava: “prefiro até quando na quina da mesa eu bato o dedão, pelo menos alguma reação tem o meu sentimento”.

O ápice do aprendizado, que era a razão real de todos esses relacionamentos vividos em vão, foi quando voltou a estar próxima de outro amigo que esteve ao seu lado no começo e que ela, naquele caso, fugindo da realidade por ser fiel ao falso real companheiro do momento, deixou mal resolvida a situação.

Confundindo amor com segurança, carinho e arrependimento, julgou novamente estar diante do homem de sua vida, e este foi justamente o de quem menos se diria, mas o que mais lhe trouxe humilhação.

Cansada de ter o amor dentro de si e nunca poder doar, de confundir os conceitos e esquecer do principal - se amar - ela deixou de ir ao mercado, à escola, à balada e ao curso para paquerar. Não era o ego satisfeito por um gracejo ou um olhar desejoso que ela queria satisfazer. Queria sentir seu coração pulsar e se abrir para alguém que merecesse desfrutar, com quem sua vida pudesse finalmente compartilhar.

Quando parou de procurar estava finalmente pronta para entender. Não, ainda, como notou mais tarde, para viver. Era apenas o primeiro passo despertar. Agora ela precisava exercitar para saber como fazer, para também estar pronta quando a sua vez chegar.

Feliz e realizada por finalmente entender, em paz por se aceitar, tudo começou a acontecer. Mas o tempo da Vida não corresponde ao que julgamos felicidade, e é fácil desta Verdade Maior se desligar.

O tempo continuou a correr, e sua rotina continuava a nenhuma novidade externa ter. Dentro de si conquistas valiosíssimas, mas isso ninguém consegue ver. Para muitos ela ainda era aquela que a mesma vida sabia viver.

Novamente perguntaram o que estaria a acontecer, o porquê de ela sozinha estar. No começo era fácil explicar, e nada do que diziam a faziam de seu caminho se desviar.

Mas sua ansiedade com o correr dos anos passou a se manifestar, e quando novamente a questionavam, ela não mais se defendia e, lado a lado com quem perguntava, voltava-se para Aquele que a apoiva e também dizia: “Quando, como, por quê”?

Sabia ser impossível retroceder mas mesmo assim sorria, concordando, quando por dentro “queria morrer”, por sentir se violentar. Contudo, quando agia seguindo o que todo mundo fazia, era agraciada, enaltecida, admirada. No fundo da alma, todavia, uma “ela” que nunca dormia, abaixava a cabeça, entristecida.

Mas sempre retornava, e voltava a sentir aquela paz, aquele despertamento. Logo, porém, havia outro teste e ela, ainda fraca, vivia outro tormento. Passou a duvidar que um dia iria conseguir voltar, e muitas vezes o desespero a acometia.

Em nenhuma das realidades mais conseguia se encaixar. A que vivia não satisfazia suas necessidades. E a que queria ainda não estava à disposição.

Por ter sua insegurança como guia, em vez da auto-iluminação, todos os conceitos confundia e presa em duas realidades se debatia.

O que num dia era certeza, no outro parecia novamente uma ilusão, e ela sofria.

Seria o amor de um casal - fundamental em sua ideologia pessoal - sensação sublime, eterna, calma e feliz, ou isso era algo que nos contavam para fugir da dura relidade, sendo o ópio para a razão?

Seria a incapacidade de amar primeiro para depois esperar receber, a inexperiência do poeta ou o costume engessado e reverenciado de quem vive, depois pensa, e não muda, porque é menos trabalhoso sonhar e mudar que simplesmente continuar com o pé no chão?

E se aquele que ama sem precisar ser amado e, seguindo esta concepção, conseguir no máximo um aperto de mão ou mero pressentimento e ainda assim encontrar a pura felicidade, for quem já despertou para uma nova realidade que não precisa ser praticada apenas no céu, mas quer exatamente elevar os relacionamentos e trazer à terra a superação?

Seria ele um bobo sonhador, ou alguém que vê a vida além da vida e compreende que muito do que se passa aqui seria o meio para alcançar o fim, e não a verdadeira realização?

Precisamos experimentar para saber, só assim será finda esta fase da lição. Se alguém ensina logarítmo, é pedido que volte a sentar com os alunos e exercite o somar e subtrair? Não seria mais lúcido deixá-lo seguir seu curso, rumo à Universidade?

Será o poeta o bobo alienado, ou aquele que já foi e já voltou enquanto nós ainda estamos indo, e está dividindo seus ensinamentos, feliz, querendo multiplicar a realidade que ele já percebeu existir?

Ou talvez ele queira tanto fugir de si que, usando seu talento, inventa toda uma linda estória com nobres justificativas e todos estejam realmente com a razão. Como saber?

Será que a paz que sente ao se elevar àquela visão acontece porque ele realmente encontrou a si e para todos os erros do passado achou explicação, admirando o mecanismo da vida o encaminhando e o trazendo à razão, mesmo que seja pelo coração, ou porque está tão equivocado que até dentro de seu desequilíbrio de concepção sente alinhamento, por uma incapacidade de encarar a vida como ela é, o que seria, então, limitação, e não maior entendimento?

Mesmo que seja uma paz vinda lá de dentro, que não foi nem buscada, simplesmente aconteceu e sempre que dentro dela agiu, o fez com discernimento e sentiu por tudo e por si mesmo admiração?

Não seriam essas dúvidas frutos ainda dessa distorção da verdadeira realidade, que é transformar o que é bom em lamento, só para que se seja mais um inserido na coletividade de sofrimento, querendo derrubar todo aquele que possa ajudar a trazer um pouco mais de compreensão?

Sendo assim, até que ponto não ter um relacionamento se ele for somente iniciado para suprir as próprias necessidades do momento, trazendo com o tempo transtornos de outro segmento, seria viver fora da realidade, só porque é assim que se age na atualidade, sendo diferente se fosse em outra situação, em outro espaço de tempo?

Não estar com uma presença física ao lado seria mais triste que estar com alguém por obrigação, por compromisso assumido e posteriormente percebido equivocado, por medo do rompimento ou mesmo por acomodação?

Ter uma casa, um carro, um namorado e um bom trabalho é sinônimo de ausência de sofrimento?

Qualquer um que seja belo, saudável, livre de situações revestidas de trauma aparente parece vir ao mundo a passeio e é menosprezado, puxado para baixo ou ridicularizado, como se em vez de conseguir pegar a sua máscara de oxigênio para estender outra ao viajante ao lado, fosse obrigado a também desfalecer e fazer parte do caos, da confusão.

Acontece que mesmo eles, sem causas de pane aparente, já estão padecendo de outras formas ou antes já padeceram, sucedendo apenas que a todos ainda não é possível disso saber.

Se apenas conquistar o que queremos materialmente é suficiente, como se fosse mais um item numa lista quando nos preparamos para fazer a compra no supermercado da vida, chamando isso de realidade, por que aqueles que já deram de caneta vermelha o último “ok” ainda sentem vazio e perdem o chão?

Será que superar os próprios defeitos, buscar saber um pouco mais de si e procurar o amor por amar, não por sozinho estar ou por precisar de alguém para as compras carregar, as contar dividir e os filhos educar ou lhe elogiar é sair do contexto ou começar a agir com lucidez?

...

Esta mulher sabe o que quer, mas está com dificuldade em se assumir. Perdida entre sabedoria, ansiedade, opiniões, revolta, coisas que ela vê acontecer, impaciência e a realidade que sente e sabe existir, volta a ver a si como se ainda fosse a mesma menina que ainda sonha, que amou em vão, e até seu trabalho tem dificuldade em encarar como profissão.

Ela, pela felicidade inicialmente sentida e para si mesma ter feito uma afirmação, pensa já estar totalmente decidida. Mas a vida é a melhor escola, e ainda tem a ela para ensinar o final da lição.

Não importa o que fazemos facilitados pela circunstância, nem simples palavras ou verbal posicionamento. A verdadeira atitude é aquela que parte de fundo da alma, que sentimos com o coração.

Quando fecha-se para as influências e torna a enxergar a si mesma como é, por mais dor e “vontade” contrária que sinta, não consegue desistir. Por obviamente não ser perfeita, conseguiu titubear, mas até isso é explicável devido à distorção da realidade que vivemos aqui.

A dúvida realmente a surpreendeu e isso chegou a desanimar. Ainda assim nunca cede totalmente, pois está convicta de reagir, lutar e conseguir.

Mas é difícil aceitar completamente, porque junto do despertamento vem a responsabilidade, e, neste assunto específico, ela não mais poderá falir. Para poder seguir, terá que terminar totalmente este ensinamento.

Novos desafios virão. Tudo ao seu redor vai mudar e a mudança, mesmo que venha para elevar, ainda incomoda o ser humano, acostumado somente a reagir.

Talvez seja por isso mais difícil acreditar não no exagero pejorativamente romântico do conto de fadas, e sim numa melhora de relação, de atitudes e de auto-descobrimento, passando a viver um novo tipo de interação. Se a História prova nossa trajetória como evolução em todos os aspectos, fatalmente a rudeza de sentimento e também a falta de inteligência emocional terão que cair.

Automático, ainda lógico e fácil, porém, é, imaginando-a iludida num “felizes para sempre” que realmente é uma utopia - ainda temos muito o quê evoluir para poder viver - apontar para esta mulher, chamá-la de “menina” e, descaradamente, rir.


Fim"

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