sexta-feira, 7 de maio de 2010

Desistir



Bom dia, queridos!
Ontem eu cheguei a salvar um post defendendo o ato de escrever, explicando que é trabalho. Pode ser hobby para alguns. É como o violão para mim: é algo que eu faço para espairecer, nas horas de folga, mas que me faz muito bem... Só que para muitos músicos, é sua profissão. Então, para aqueles que trabalham numa empresa e escrevem só de vez em quando, o ato de escrever é um hobby. Para aqueles que nem lêem ou escrevem, então, somos meros desocupados.
Mas se o mundo dependesse só de quem escreve por lazer ou toca por lazer, haveria poucas trilhas sonoras a nos fazer voltar no tempo ou dar o ambiente a uma festa, guiar filmes, novelas, telejornais, seriados, etc... E muito problema na educação, pouquíssimos livros para se ler em férias, na fila do banco, no metrô, e por aí vai... É sempre o ser humano vendo o mundo somente pelo seu próprio prisma e esquecendo de que não está sozinho... Se é hobby para mim, pode ser trabalho para o outro. Então, não é por ser hobby para mim que É hobby...
Antes de prosseguir, quero deixar bem claro que nada aqui é crítica, que comentários agressivos serão simplesmente ignorados, porque o clima deste blog é de paz... Este é um canal de desabafo, é um canal para escritores novos trocarem idéias, amigos irem acompanhando o trabalho e assim vai... E queria dizer que apesar de conseguir trabalhar como escritora, em casa, com auto-disciplina, eu também gosto do lado burocrático, do horário, uniforme, departamentos, happy-hours, etc... Adoraria trabalhar numa empresa... Fico imaginando a máquina de capuccino...rs... Isso muito menos é uma crítica a este tipo de trabalho, muito pelo contrário. Estou acabando de dizer que também me identifico com ele! A intenção não é levantar bandeiras, e sim harmonizá-las... Somos seres complexos, com vários gostos, aptidões, tendências... Dá para fazer de tudo e gostar de muitas coisas. Há espaço para tudo e para todos, cabe a cada um ter a sabedoria de identificar onde melhor se encaixa e fazer o melhor possível enquanto isso não acontece...
Mas vamos parar com as digressões e entrar no assunto do post: escrever é um trabalho não convencional e baseado na perseverança, mais do que no trabalho em si. Eu não tenho um salário no final do mês. Eu escrevo sem saber quando irei receber por isso. Notem que estou sendo otimista e nem pensando no "se", só no "quando". Enquanto não se ganha com a escrita, é necessário encontrar outras formas de ter sustento. Mas escrever é trabalho!
Vivo num mundo onde as pessoas ainda olham para a arte, que é uma das várias formas que temos de nos conectar com nosso lado espiritual, mais nobre, como se fosse supérflua. Onde ainda é tão difícil ter o mínimo necessário para se viver (casa, comida, roupa) para tantos, que pensar em pensar pode até parecer coisa de "sonhador", "alienado", e eu até compreendo o raciocínio. Mas é preciso entender que quanto mais cedo dermos valor para essas verdades que estão explodindo aos quatro cantos do mundo em diferentes vozes, como auto-conhecimento, sociedade justa e fraterna, cuidado com o meio-ambiente, qualidade de vida e várias outas idéias, mais cedo sairemos deste quadro não tão agradável.
É difícil até para mim aceitar que eu trabalho muito (escrever dá até fome e cansaço!), mas que posso fazer uma comida saudável, caminhar às 7h da manhã, cuidar da casa, da roupa, do carro, do jardim e ainda estudar. Quase sinto culpa por ter uma rotina corrida, porém, equilibrada, morando numa pacata cidade do interior, enquanto tantos se matam no trânsito das cidades grandes, vivem com metas absurdas das multinacionais (ou meras redes de shoppings locais, como uma pessoa próxima acabou de vivenciar) ou realizam trabalhos que sugam suas energias além de um cansaço natural de uma dia de trabalho - o que é a diferença entre "ossos do ofício" e não ter feito uma escolha certa anteriormente e agora ter que viver com as consequências, até que seja possível mudar.
Eu vivi esta rotina quando tive meu negócio. Passei 3 anos sem vida pessoal, sem nem fazer exames de rotina. Só fui ao médico após o expediente, por estar com gripe forte - daquelas em que nenhum doutor permitiria que eu saísse da cama - ou para o pronto-socorro - sempre, após o expediente, mesmo tendo começado a ter enjôos ainda na hora do almoço - por ter fortes dores no coração, sentir o braço formigar e simplesmente não conseguir ficar de pé.
Quando você sai deste meio e não apenas encontra algo melhor, mas encontra o seu ser nesta nova atividade, que é mais "light", dá até medo de parecer ilusão ou comodismo. Mas é isso... aí vêm as pessoas que não entendem. Pedem "n" coisas no seu horário de trabalho, só porque "você está em casa, então, está à toa", como já ouvi algumas vezes. Trabalho, então, é só o de carteira assinada e o fora de casa. De preferência, se carregar saco de cimento na cabeça. O resto é enrolação. Autônomo sempre pode largar o que está fazendo para pagar uma conta para o parente, amigo e pasmem - conhecido! - que "trabalha", levar a sobrinha na rodoviária para buscar o namoradinho ou dar uma "carona" para o parente que veio resolver assuntos na cidade ou talvez apenas passear. Detalhe: chamam de carona o fato de você morar no norte, a pessoa se deslocar até o centro, pedir que você saia da sua casa até o mesmo ponto e ainda o leve ao sul. Para mim, carona é quando vocês já estão no mesmo ponto e a pessoa a receber a gentileza mora no caminho ou você, por cortesia, a leva a outro ponto e retorna ao seu. Resumindo: deixe sua louça para lá, recolha o lixo amanhã e escrever pra quê? É um hobby, faça no sábado!


Aí você supera tudo isso e aceita seu trabalho. Mas o resultado é lento... parece que nunca vai acontecer. Chega-se a ficar paranóica esperando o carteiro, o celular tocar (imagine a sensação quando atendo e além de não ser nenhuma editora ou contato, é uma dessas pessoas pedindo um favor em plena tarde, por volta de 16h - quando eu páro, no máximo, para ligar a cafeteira e fazer um café...a essa hora, descafeinado... rs...), entra-se no e-mail de uma em uma hora, só para ver se alguém respondeu. As respostas automáticas deveriam ser proibidas por lei, pois podem custar um coração...rs...
Aí começa a luta mais difícil... Eu achei que tivesse vencido quando consegui assumir o que queria, o que deveria ter feito desde sempre. Alguns me atrapalharam, como disse acima, mas muitos também ajudaram. Então, consegui vencer "os outros". Agora preciso vencer o medo, a ansiedade e a incerteza. Se for para dar certo o caminho é continuar tentando. E se for para não ser, eu também terei que tentar até saber. Não é porque faço que vai acontecer, como o assalariado. Mas se eu não fizer, nunca vai acontecer. Já é tão difícil ser seguro mesmo nos empregos seguros, porque eles flutuam muito atualmente... Imagine no inseguro...
Hoje eu estou um pouco pensativa, com um pouco de dúvida, por isso resolvi escrever isso tudo aqui... O que ontem eu ia mostrar só como teoria de experiências passadas, hoje é um exemplo prático: eu estou com medo! Vira e mexe pensamentos pessimistas, fantasiados de realistas (e é incrível como todos nós ainda confundimos muito os dois), atormentam minha mente e me fazem repensar tudo. Eu já fiz esta escolha mil vezes... Mas mesmo sendo complicado, mesmo com a chance de ser um baita engano - e de agora ter ainda mais pessoas sabendo disso! - eu escolho prosseguir mais uma vez.
Se for para ser, lembrarei de tudo isso com orgulho e, mais madura, ainda tomarei cafezinhos às 16h com editores e leitores, num lançamento numa grande livraria, rindo de tudo... Se não for para ser, posso até ficar decepcionada porque entrei numa empreitada que não rendeu frutos, e isso pode parecer fracasso. Mas ainda assim vou lembrar com orgulho, pelo simples fato de ter tentado. Esta seria minha maior vitória!
Bom, amigos, para saber o que será, preciso ainda de tempo... e de fé! Seja o que Deus quiser!
Abraços mais otimistas (viram como escrever SEMPRE me faz bem?),
Camila

3 comentários:

  1. E quando escrever é trabalho E hobby? Como faz? hehe... no trabalho, eu escrevo atividades, material de treinamento, material para as aulas, textos acadêmicos... e meu livro fodão de fantasia? Esse fica pra escrever em casa, nas horas livres... Qria q não fosse hobby, nem sei se encaro assim.

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  2. Oláááá, Celso! Tudo bem? :-) Pelo telefone eu não conseguia ler você e falar com você...rs... Bom, quando é hobby e trabalho, aí você está no céu...rs... Eu também não encaro como hobby, foi isso o quê eu quis dizer. Algumas pessoas podem até escrever só por hobby, assim como eu toco violão, por exemplo. Eu adoro, me sinto bem, me eleva, mas não é o que MAIS me motiva (apesar de me inspirar muito...). Então, eu vejo como hobby. Mas escrever, não. E escrever pode ser para alguns o quê violão é para mim, entende? É isso que estou dizendo: não é porque é hobby para alguns que seja somente hobby e que quem o faça não esteja fazendo como trabalho, entende? :-)
    Beijinhos,
    Camila

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  3. Camilaaaaaaaaaaa! Adorei esse seu post. Eu super me identifiquei com ele! Tenho o mesmo pensamento que você, porque também adoro escrever... e quando estou no meu momento de paz de espírito, as pessoas acham que fico fazendo "nada" nessa máquina viciante que voco computador!
    Fazer o quê?! Enquanto a literatura não for arte, seremos discriminados por apenas escrever!

    Beijos, até.

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